(post pessoal, como costumo fazer de vez em quando e ninguém entende nada)
Cansei. Cansei das pessoas. Cansei da hipocrisia dominante. Cansei de demagogia. Cansei de sentimentalismo barato. Cansei de falta de solidariedade. Cansei, simplesmente.
Isto não é uma carta suicida ou coisa que o valha. É apenas um desabafo contra as milhares de pessoas que cruzam nossos caminhos, seja pessoalmente, num atendimento de telemarketing, no Twitter, ou que escrevem absurdos em blogs ou nos comentários do Globo Online – e a gente acaba tendo a terrível infelicidade de ler. Pior são aqueles que temos a obrigação social de conviver, como colegas de trabalho ou faculdade/escola/curso. Família, então, nem se fala. Muitos dos que compartilham nosso mesmo código genético simplesmente não dividem absolutamente mais nada conosco. A afinidade é zero, deixando uma secreta vontade de que aquelas pessoas simplesmente sumam do planeta Terra.
Às vezes, porém, chega a hora de gritarmos essa vontade ao mundo.
É o que faço agora.
Dois gatilhos me fizeram pensar nisso tudo. O primeiro deles, menos importante e mais óbvio, foi a morte de Michael Jackson. As demonstrações de tristeza coletiva, por parte daqueles que há uma semana – e aqui eu me incluo – falavam mal das bizarrices do popstar, me irritam. Achei uma grande perda pelo que MJ FOI, não pelo que era agora. Reconheço a infância difícil e os traumas que ele devia carregar, mas se eu não tenho essa complacência com quem está ao meu lado, por que teria com alguém que jamais conheci? Digo e repito aos meus amigos: todo mundo sofre, todo mundo tem problemas, e o que nos diferencia é como enfrentamos estas vicissitudes da vida.
Como cantor/popstar/revolucionário, porém, lamento imensamente a morte de Michael Jackson. Mas não virou santo, desculpem-me.
O segundo gatilho, conhecido por quem me conhece mais de perto, é a doença da minha avó. Ela sofreu um AVC dia 3 de maio, e até hoje permanece internada. Maio foi um mês dificílimo pra mim, mas não tenho tempo para ficar me lamentando. Terminaram minhas provas e eu imediatamente entrei num avião para vir ficar com ela.
Odeio Manaus, não sou feliz aqui e sofro horrores com o calor. Minha ideia de férias não é, definitivamente, ficar dentro de um quarto de hospital horas a fio. Mesmo assim, cá estou, tentando entender as coisas ininteligíveis que ela diz, ferrando a minha coluna cada vez mais quando tenho que movimentá-la, me desesperando – sorrindo, sempre – a cada vez que ela fica mais pálida.
Não sou Madre Teresa de Calcutá ao fazer tudo isso. De jeito nenhum. Acho até que faço menos do que deveria. Tudo o que tenho feito é minha obrigação moral como neta e como ser humano.
Alguns familiares pensam de forma diversa. Dois dos filhos dela (ela tem 4) sequer ligam para saber como ela está. Dos netos (são 10), somente 2 aparecem com frequência – e uma delas sou eu. Noras? Piada, né?
Comentando sobre esta situação com a Marcela, minha amiga de faculdade e que escreve aqui, ela disse: “Incrível como essas coisas acontecem em toda família”. Indeed, Marcela, indeed. Sei que a família Lapa não é a única no mundo a sofrer com isso. INFELIZMENTE, digo com sinceridade (quase escrevo um “digo sinceramente”, mas achei que era advérbio de modo demais para uma frase tão pequena. adoro advérbios de modo, mas não percebo isso).
Gostaria que isto só se abatesse sobre a minha famíia. Mas sei que não é assim. Então, me digam: se as pessoas ficam tão tristes com a morte de alguém em outro hemisfério, por qual razão elas não se preocupam com aqueles que estão ao seu lado? Por que são indiferentes à dor física, moral e emocional de familiares e amigos? Por que não se compadecem com a falta de grana de um amigo? Por que dão pés na bunda sem remorso? Por que veem cidades sendo alagadas por chuva e pelo-rio-negro-que-não-para-de-subir e não doam uma única peça de roupa?
Outro dia, numa entrevista, uma pessoa me disse: “caridade começa em casa”. Fato. Cuide de quem está perto de você. Não fazer isso e emocionar-se vendo TV ou conclamando revoluções via Twitter é feio, bobo e mau.
Get a life. Move. Não seja fake. Se não der pra evitar, por favor não cruze o meu caminho.
Nádia Lapa, tolerância zero