Midcult

sábado, maio 2, 2009

Não há palavras que expressem a exata dimensão do que Ayrton Senna da Silva representou – e ainda representa – na vida de todo brasileiro que viveu na década de 1980.   

Foi por conta dele que me tornei esta viciada em F-1 que fica madrugadas acordada esperando corridas começarem do outro lado do mundo. Acho que fico esperando a mágica daqueles domingos voltar. Até hoje, quase vinte anos depois, nada se comparou à vitória de Ayrton no GP Brasil de 1991:

O Brasil havia vivido 20 anos de ditadura militar; a população lutava com os altíssimos indices inflacionários, recessão, planos econômicos desastrosos. Ter um brasileiro no lugar mais alto do pódio, com orgulho da pátria que representava, era uma benção pra este povo tão sofrido. Era uma época em que precisávamos acreditar em nós mesmos, e Senna soube trazer a esperança pra perto da gente. 

Ele não era somente um vencedor, um piloto arrojado. Na minha humilde opinião de quem acompanha F1 há uns 20 anos, o melhor piloto de todos os tempos. Não era só isso, porém. Ele tinha um carisma inexplicável. A coisa se tornava ainda mais surreal porque ele não era exatamente o tipo de pessoa que vive rindo pelos cantos, posando de boazinha ou coisa que o valha.

Era uma aura, uma identificação incompreensível com o povo brasileiro. Era um mito.

Até que em 1 de maio de 1994 acordei meio tarde. Morava em Manaus, e por diferença de fuso horário, a corrida começava muito cedo.  Acordei com  a notícia de que o acidente havia ocorrido. Como dizem que o primeiro passo é a negação, era exatamente este o sentimento dominante. Achávamos que era um acidente sem maiores proporções. Equipes médicas ao redor do piloto; helicópteros. E entra Roberto Cabrini, direto da Itália, interrompendo o Barrados no Baile:

A negação continuou, mas ela se misturou com um choro que dura até hoje. A partir do falecimento do maior ídolo que este país já conheceu, soubemos das suas ações beneficentes. Ele, agora, não era só mais o grande piloto. Era um grande homem. E estava morto.

Chorei absolutamente todos os dias. TODOS. O corpo demorou a ser trazido para o Brasil, e as reportagens do Jornal Nacional sempre nos emocionava. Eu, adolescente, não queria “pagar mico” e chorar por quem eu nem conhecia. Não tinha jeito. Nem a “vergonha” me impedia de me desfazer em lágrimas.

Via aquelas imagens da população aqui em SP no cortejo fúnebre e não me aguentava. Ano passado me emocionei durante o GP Ayrton Senna (prêmio de jornalismo). Hoje, quinze anos depois, chorei de novo. E uma parte de mim sempre se entristece ao passar perto do Cemitério do Morumbi, que fica a 5 minutos da minha casa. 

E eu sei que, no fundo, aquela mágica que busco nessas madrugadas insones esperando os roncos dos motores jamais voltará. Ayrton Senna só existiu um. E nós morremos de saudade.

Pra quem não tem noção do que a morte de Senna significou pra todos nós:

Nádia Lapa

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