Midcult

domingo, maio 9, 2010

E-book? Não, obrigada

Filed under: Livros,Tecnologia — Âmbar Elétrico @ 19:31
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Alguns amigos costumam dizer que eu nasci com 60 anos e, ao contrário de Benjamin Button, estou envelhecendo ainda mais. Hoje, por exemplo, estou na faixa dos 80. E foi exatamente assim que me senti quando li a coluna deste domingo do maravilhoso João Ubaldo Ribeiro:  No tempo do livro.

Depois de ler João (sim, dou-me o direito de ser íntima dele), qualquer coisa que outra pessoa escreva torna-se irrelevante, mas fiquei a pensar sobre como essa onda da modernidade – quando o assunto são os livros – me traz certo incômodo.

Cresci lendo os gibis da Turma da Mônica em casa, na escola, no banheiro (o famoso “tchau” que os psicólogos dizem que a criança deve dar para o cocô eu fiz com um gibi da Mônica na mão que ficara livre).  Aí surgiram os livros de aventura, de gramática, de história e de matemática – este último eu devo ter perdido antes de chegar à metade, o que explica a dificuldade para os números. Chegar ao século 21 e saber da existência do e-book me deprime. O ofício da profissão me obriga a esclarecer o que diabo venha a ser isso, apesar de metade do mundo já ter conhecimento.

E-book é a versão digital de uma obra literária, disponível para leitura em aparelhos eletrônicos compatíveis com o formato da digitalização. Veja um exemplo destes brinquedinhos:

Não sou hipócrita a ponto de negar  a vantagem econômica da versão eletrônica em relação à tradicional impressa, chegando a  primeira a ser disponibilizada gratuitamente em alguns sites. Para a realidade brasileira, isto seria, em teoria, a solução para o problema do desinteresse pela leitura da maioria de nossos compatriotas. Mas o buraco é bem mais embaixo e não cabe a mim dizer quais são os outros motivos. Qualquer pessoa minimamente consciente do “Brasil brasileiro” sabe enumerá-los.

O que me move aqui é a minha malfadada tentativa de expor a beleza e o prazer de ter em mãos um livro tradicional novo ou mesmo cheio de marcas do tempo (e de ácaros que me fazem espirrar enlouquecidamente). Eu não consigo sequer ler um texto da faculdade pelo computador; imprimo tudo – as árvores que me desculpem.

Talvez eu seja maluca ou apenas “atrasada”, mas não consigo ser mais feliz lendo uma versão eletrônica de Drummond, Pessoa ou Guimarães do que sentindo-os entre as mãos no velho e bom papel.

Cintia Santiago

2 Comentários »

  1. Pois é, meu chefe esses dias me disse sobre esse tal “Kindle” (é isso?)quando eu estava todo feliz por ter encontrado o “Inherent Vice” de Thomas Pynchon novinho num sebo. A sobrecapa é linda, com cores vivas, letras 3D em verde e magenta, enfim, toda uma elaboração na arte da capa com um resultado lindo. Além de saber que a orelha foi escrita pelo próprio autor, você fica maravilhado por saber que aquela é a primeira edição, igualzinha àquela que o autor recebeu da Editora. Mas creio que apenas leitores mais evoluídos sabem distinguir essas peculiaridades, e sabem chegar ao ponto de apreciar uma primeira edição com entusiasmo.

    Comentário por Allan Moraes — quinta-feira, setembro 23, 2010 @ 10:05 | Responder

    • Allan,

      De fato, não há nada mais prazeroso do que sentir um livro nas mãos e poder folheá-lo. Isso, infelizmente, talvez acabe um dia.

      Obrigada pelo comentário.

      Um abraço.

      Cintia Santiago

      Comentário por Cintia Santiago — quinta-feira, setembro 23, 2010 @ 10:10 | Responder


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