Nota: Este post não é uma crítica, muito menos uma análise. Representa apenas as impressões de uma leiga e adoradora da arte de representar. Não falarei sobre a direção de Felipe Hirsch, muito menos da coordenação artística de Daniela Thomas. O intuito aqui é outro.
Dia doze de junho, vinte e uma horas e doze minutos. As luzes se apagam. Todos direcionam seus olhares para uma mulher que entra pelo lado esquerdo do palco e senta numa cadeira que está no centro. Só. Ela e a cadeira. Tudo é negro, com exceção da luz enquadrada e do figurino.
Sensação de monotonia, tédio? Talvez. Se você sente isso, não continue a ler. Obrigada.
São sessenta minutos de uma única voz. A voz dela. O som de duas mulheres que se misturaram para a simbiose que aflora na figura de uma das personalidades mais importantes do século XX.
Afastando-se da imitação física e aproximando-se da característica emocional de Simone de Beauvoir, Fernanda Montenegro constrói – na verdade, reconstrói – uma criatura plena, firme, cheia de força, de ideias e de sentimentos.
Durante o espetáculo, ela – Fernanda, ou seria Simone? – nos leva a embarcar em um vasto mundo de sonhos e desejos. Um intenso pulsar de vida e de arte. Em cada frase, um soco na boca do estômago; em cada olhar, a certeza de estar diante do ideário de uma mulher que não queria pouco. Que desejava viver sem tempos mortos.
A vida não está pronta para nós. A surpresa faz parte do jogo. O jogo é complicado. As surpresas são muitas. “A vida não é de quem sabe viver.”.
Atenção para Dona Fernanda, por favor. Sempre.
Cintia Santiago